Coelhos

O que a páscoa significa para você? Sabe, esta aí uma pergunta que eu nunca pensei em responder. Eu nunca fui uma pessoa de seguir tradições religiosas, por isso nunca pensei em tudo como a comemoração pela ressurreição de Cristo, paz no mundo ou seja lá o que a bíblia diz sobre a data. Também nunca fui do tipo que se reúne com a família para almoçar, conversar e agradecer por tudo o que nos é dado todos os dias. Constrangedora e inegável, a verdade é que, para mim, assim como para muitas crianças, a páscoa é simplesmente um dia onde se come muito chocolate. Minha tradição.

Quando você tem 20 anos de idade, o que as pessoas esperam de você é que seja uma pessoa inquieta, que fuja da rotina a todo o momento, imprevisível. Bom, eu não sou assim. Entretanto, na agenda havia uma leve alteração de rotina: cinema. Engraçado, nunca ter o que fazer, quando tem, é justamente no dia em que você "deveria" estar junto a seus entes queridos. Mais estranho ainda é não ser o único; sim, eu tinha companhia.

O shopping é mesmo um laboratório de experimentos sociais. Pessoas sozinhas e acompanhadas, felizes ou tristes; mulheres fascinadas, homens apressados, crianças impacientes, atendentes mal humoradas. Inicialmente, tive um impulso e pensei: pessoas sozinhas, o que fazem no shopping na páscoa? A memória chama e então eu lembro: eu também estou no shopping na páscoa, sou tão sozinho quanto elas. Minha companhia não havia chegado e nem a da senhora sentada ao meu lado.

Dois dias antes, eu me perguntava o motivo pelo qual as pessoas deixam de comer carne na sexta feira santa. A dúvida que me assombrava no domingo já não era a mesma. Eu li em algum lugar que na páscoa devemos pensar na família, ficar perto dela e agradecer por te-la, seja ela como for. Li também que não devemos dar mais valor a pessoas que mal conhecemos (amigos) do que à família. Como então havia tantas pessoas fora de suas casas, longe de suas famílias, alegres, satisfeitas com a (falta de) companhia que tinham? Enfim, minha companhia estava chegando e eu não tinha mais tanto tempo para pensar.

Conversamos durante horas: não nos encontrávamos havia um bom tempo e tínhamos muito para contar. Eu odeio pessoas "auto-ajuda", que a todo problema que você passa, aparecem com uma frase de efeito. Todos passamos por momentos difíceis e, para mim, compartilhar momentos como estes com os outros, saber que outros passam pelas mesmas coisas que eu, me faz sentir melhor. Minha amiga e eu conversamos, compartilhamos problemas, nos apoiamos sem precisar dizer "eu te ajudo". Foi então que percebi que eu estava longe da minha família, sem uma mesa farta, sem chocolates e mesmo assim estava me sentindo bem. Fomos para o cinema; o filme era ótimo, todos riram. Até os desacompanhados riram.

Me despedi de minha amiga e segui meu caminho até em casa. Voltei a me questionar quanto às razões das pessoas estarem felizes, mesmo estando fora de casa. Me perguntei o motivo de eu estar feliz por estar fora de casa. Descobri: alguns dizem que na páscoa você deve ficar perto de seus entes queridos, sua família, em torno de uma mesa farta e agradecer pelo que lhe é dado todos os dias. O problema é que, muitas vezes família são os amigos, a quem sempre podemos contar. Família as vezes é o EU, não que seja o único a quem se possa contar, mas alguém importante a quem se deve amar. E, as vezes, o modo de agradecer pelo o que nos é dado todos os dias, é simplesmente vivendo a vida, aproveitando tudo aquilo que "seja lá quem for que você acredita" lutou para nos deixar. E é isso que a páscoa significa para mim.